Novos hábitos de consumo antes, durante e pós pandemia.

O delivery foi alçado ao protagonismo no setor de alimentos e bebidas durante a pandemia do novo coronavírus. Mas não foi um fenômeno totalmente inesperado: o mercado brasileiro já vinha mostrando forte expansão neste segmento nos últimos anos.

Segundo pesquisa do Instituto de Foodservice Brasil (IFB), o delivery já havia aumentado 23% entre 2017 e 2018 no país. A facilidade, a comodidade e o custo-benefício oferecidos pelo serviço, aliado à popularização dos aplicativos para celular, ditaram esta mudança de comportamento.

Atenta ao movimento mercadológico, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) realizou diversas pesquisas e descobriu que o crescimento no número de pedidos via apps já chegava a quase R$ 1 bilhão por mês em 2019.

As previsões para os anos seguintes eram mais que otimistas; e 2020 começou com excelentes resultados: entre 1º de Janeiro e 16 de Março, o download de aplicativos de entrega já representava 61,7% de todas as instalações desses mesmos apps ao longo de 2019.

O que atrasava o desenvolvimento ainda maior deste segmento eram os próprios estabelecimentos de alimentos e bebidas, que ainda se mostravam resistentes à tendência.

A pandemia, então, deu o empurrão necessário ao crescimento exponencial do setor. Apenas no dia 6 de Março, quando o Ministério da Saúde divulgou que o contágio via transmissão comunitária do coronavírus estava próximo, houve um aumento de 126% nos downloads desses aplicativos, em contraste com o mesmo período de 2019.

Somente na cidade de São Paulo (SP) foi registrado um crescimento de 700% em instalações de aplicativos de entrega e 234% em suas utilizações (eventos in-app). O levantamento foi feito entre os dias 2 de fevereiro e 25 de abril deste ano.

Tendência nacional pela Mobills, startup de gestão de finanças pessoais, que analisou os dados de mais de 160 mil dos seus usuários entre janeiro e maio deste ano. A empresa revelou que os registros de compras por delivery cresceram 94,67% em comparação com igual intervalo do ano passado.

Segundo o CEO da Mobills, Carlos Terceiro, esse aumento ocorreu de forma balanceada e gradual à medida que outras despesas foram ficando menores, principalmente transporte e lazer.

Hábitos de consumo via delivery antes e durante a pandemia

É importante ressaltar que essas mudanças possuem raízes ainda mais profundas. Os brasileiros já vinham priorizando conveniência e praticidade no momento das refeições, segundo o estudo Brasil Food Trends 2020 (lançado em 2010), desde o início do século 21.

De acordo com essa pesquisa, consumidores baseiam suas escolhas de acordo com o ritmo de sua rotina, buscando economizar tempo e esforços para se alimentar. Assim, a partir dos anos 2000, passaram a optar por refeições prontas, congeladas, alimentos de fácil preparo e, principalmente, pelo delivery.

Antes restrito às pizzas de final de semana ou almoços com comida caseira, o delivery foi ganhando ao longo dos anos um novo apelo, novos serviços e comodidades. Este movimento não ficou restrito aos grandes centros: em cidades de menor porte, a demanda por alimentação pronta também cresceu exponencialmente.

Entretanto, o perfil de consumo nestas cidades é diferente das metrópoles, conforme indica o CEO do pede.ai, João Neves. E ele fala com conhecimento de causa: a plataforma de delivery é a que mais cresce nas regiões Norte e Nordeste; e está presente em mais de 16 municípios brasileiros com até 150 mil habitantes. “Temos uma adoção em massa das pessoas com até 34 anos e maior fidelidade aos estabelecimentos. Há um fator emocional envolvido na compra, algo incomum nas capitais”, explica Neves.

O profissional alega ainda que quando a pandemia se instalou, o comportamento do cliente mudou drasticamente – dando um salto que era somente esperado para os próximos 10 anos.

Dados apontam que lanches seguiram em alta, porém houve aumento nos pedidos por café da manhã aos finais de semana, refeições familiares e também por sobremesas. A entrega de bebidas, como vinhos, também cresceu no período.

Com a quarentena, supermercados, farmácias e outros pequenos negócios finalmente se renderam aos marketplaces também nas cidades menores, visando alcançar um público ainda mais robusto. “Já estávamos preparados para esta demanda e tivemos aumento considerável na adoção destes outros tipos de estabelecimentos ao nosso business”, revela João Neves.

Comportamentos de consumo via delivery na retomada

Para avaliar os próximos passos do segmento, a Galunion, empresa especialista em food service, e o Instituto Qualibest desenvolveram o estudo Covid-19 & Alimentação. Os resultados foram, em geral, bastante otimistas. Pelo menos 21% dos entrevistados acreditam que vão gastar ainda mais com esse canal de compras no pós-pandemia.

Outra pesquisa, desta vez realizada pela Food Consulting, apontou que 75% dos consumidores pretendem continuar pedindo por delivery igual ou mais vezes do que antes dos coronavírus.

Entre os canais mais utilizados, os marketplaces foram apontados em 61% das respostas; telefone em 34%; WhastApp, em 32%; app e site do restaurante; 27%; Instagram ou Facebook, 4%; e 11% das respostas foram de consumidores que não usam o serviço.

É inegável, no entanto, que a reabertura dos negócios de gastronomia irá trazer um certo impacto no volume de pedidos do delivery. Pelo menos 74% das pessoas consultadas pela Foodservice informaram que pretendem retomar o consumo fora de casa.

João Neves, no entanto, segue otimista. “O que vimos acontecer ao longo de 2020 foi um caminho sem volta. O delivery, principalmente em pequenas cidades, só deve se consolidar nos próximos anos”, aponta.

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